domingo, 5 de fevereiro de 2017

SEM TÍTULO




Vejo-o-me assim
e nem me importa que me estranhem a construção
outros o fizeram antes de mim – e mais bem feito –
outros hão-de após mim soprar o pó das convenções restantes

Meus neurónios são livros publicados
livros que ainda não foram sonhados
livros vetados
livros ansiados
livros esquecidos

L I V R O S

Palavras escritas, frases desenhadas
que importa se contendem ou convergem
se são elas o tecido das minhas sinapses-ideias?

Não me zanguem a paciência com a pequenez
porque não tenho paciência – não sou de paciência
e renego a vilania
Não existe fel de peixe de Tobias
capaz de fazer-me ver aquilo para que não quero olhar
nem sequer sou o pai de Tobias
e a infâmia desmerece a providência de mim.

Des-tempo, des-espaço, des-paciência
oclusão
é tudo quanto reservo
na minha biblioteca-cérebro
para quem aspira a ser lombada
e nem chega a ser um nome.


5 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Gostei.
Um abraço e uma boa semana

A. Fernandes disse...

Olá, Fátima:

Parece que poesia não é o prato forte mais apreciado nesta manjedoura das letras. Mas, ainda que em atraso, não podia deixar em claro a minha opinião. O teu poema é lindo e desenhado com aquela contenção que é apanágio da poesia legítima, alheia a berloques e ouropéis. A pressa com que publicaste o texto do Orlando revela um certo pudor, quase a pedir desculpa, de teres cometido o teu ACTO POÉTICO. Mas não é caso para tanto e... deves reincidir.

Um abraço amigo do

Tonho

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

Obrigada.
Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Com efeito, virei depressa a página porque me desviei um pouco do tema do blog, que é Rebordaínhos e não o meu "eu". Mas guardo com todo o carinho as tuas palavras generosas.

Um grande beijo

Anónimo disse...

Qualquer simples mortal se sente esmagado perante estas palavras carregadas de poesia lírica. Mesmo assim, eu continuo a defender o direito ao contraditório: um blog em que todos leem pela mesma cartilha é como um imenso rebanho de carneiros e ovelhas que obedecem cegamente aos cães de guarda dos pastores que se protegem do frio e da chuva com capas de palha do paleolítico superior, ou como um país inteiro que acreditasse que Nossa Senhora tivesse aparecido realmente a uns trabalhadores infantis de Fátima, como se tal aparição maravilhosa tivesse ocorrido pela primeira vez no mundo. Pois saibam que Nossa Senhora também apareceu na Serra da Nogueira, em Trás-os-Montes, num magnífico cenário natural que nada fica a dever à Cova da Iria.
Haja saúde!