quarta-feira, 30 de março de 2011

Partiu mais um amigo


É com profunda tristeza que a gente de Rebordainhos vê partir mais um dos seus.

E desta vez, o pesar e as saudades bateram à porta da Sra Cândida que ficou sem o seu companheiro de uma vida.

O tio António "Atilano" adormeceu para sempre.

Estas pascoelas, acompanhadas de um beijo, são para ele.

segunda-feira, 28 de março de 2011

ROSTOS

E que tal voltar às fotografias dos nossos pais, avós, amigos, conhecidos...
Esta não é muito difícil eu quase os reconheço a todos, por isso preciso da vossa ajuda amigos de Rebordaínhos e todos que queiram participar.

(Clique na imagem para a ampliar)

Lugar: a rua em frente à casa do tio Amadeu, por baixo da horta da tia Maria Silva.

1- Tia Estefânia
2- Tia Madalena (esposa do meu tio João)
3- Maria Alice Duque
4- Tia Luísa (minha mãe)
5- José Duque
6- Tia Emília
7- Tio Amadeu (meu avô)
8- Tia Benigna (minha avó)
9- Tia Maria José (esposa do meu tio Américo)

sábado, 26 de março de 2011

ORAÇÕES

ANTES DE DORMIR


Lembramo-nos todos, certamente, destas maravilhas que dizíamos ao deitar:



I

Nesta cama me deito
para dormir e descansar.
Se vier a morte para me levar,
apego-me aos cravos,
abraço-me à cruz
e entrego a minha alma
ao Menino Jesus.




......II

......Adeus lume,
......Adeus lar
......Adeus Menino Jesus
......Que me vou deitar


............III

............Nesta cama me deito,
............Jesus me cubra com seu manto
............se eu bem coberto for
............não haja medo nem temor.

................IV

................Nesta cama me deitei
................sete anjinhos encontrei:
................três aos pés, quatro à cabeceira,
................e Jesus Cristo na dianteira.
................Deitei os olhos ao céu
................pensamentos na glória,
................meu coração achei
................Jesus Cristo na Custódia

.....................V
(versão, muito bonita, enviada para a caixa de comentários por um leitor brasileiro de origens transmontanas)


..................Nesta cama me deitei
..................Para dormir e descansar
..................Se a morte vier
..................E não lhe puder falar:
..................Apego-me aos cravos,
..................Abraço-me à Cruz,/
..................Entrego minh' alma
..................Ao Coração de Jesus.

..................Coração de Jesus,
..................Guardai-me esta noite,
..................E amanhã por todo o dia.
..................Que minh' alma não seja presa,
..................Ó Jesus, Ave-Maria.

                          .VI

Outra leitora brasileira, também de origens transmontanas, fez o favor de partilhar esta oração:

Menino jesus, descalcinho pelo chão 
mete os teus pezinhos dentro do meu coracão!

sábado, 19 de março de 2011

DIA DO PAI


Como dizer bem-haja ao nosso pai,
se ele se veste de S. José
e nos responde que
o amor nada custa?

Fuga para o Egipto,
painel de Policarpo de Oliveira Bernardes (c. 1730), Museu Nacional do Azulejo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

VIZINHANÇAS BLOGOSFÉRICAS

Quem está atento à barra lateral desta página já reparou, certamente, que lá mais para baixo apresentamos uma (curta) lista de blogues que nos são próximos - geográfica e afectivamente. Permitam-me que destaque dois, pela sua beleza e pelo enorme trabalho que exige aos autores:


Geograficamente muito próximo de Rebordaínhos, a Aldeia de Outeiro tem uma página que é uma inspiração! Vale a pena percorrê-la. Como pode ver-se na imagem, tem ligação directa para o blog , actualizado regularmente com textos muito interessantes.




Um nadinha mais distante fica Vinhais que tem direito a uma página que é um deslumbramento para os olhos e um bálsamo para quem quer matar saudades. Chama-se Fotos de Vinhais e o autor do blog é Raul Coelho, de quem já publicámos uma fotografia, aquela que encima o primeiro artigo sobre o tio António Piloto. Quem percorrer a barra lateral do blog do Raul Coelho lá a encontrará, a cores, por entre inúmeras outras de teores variados.

Espero que gostem das sugestões.

segunda-feira, 14 de março de 2011

ARES DA SERRA


SEI DE UM NINHO
por

ANTÓNIO AUGUSTO FERNANDES

Naquele tempo, no tempo de se ser criança em Rebordainhos, quando chegava a primavera, a criançada construía em torno dos ninhos toda uma cultura feita de respeito, ternura e… voracidade: ia-se aos ninhos, aprendia-se um ninho e sabia-se um ninho, tal como se ia à escola, se aprendia a tabuada e se sabia a tabuada ‒ uma verdadeira caminhada pela escola paralela da vida. Saber um ninho era receber em compêndio abreviado uma enorme lição sobre o prodígio das coisas naturais, as origens da vida e a ternura da maternidade. Era um misto de enlevo e… crueldade também, pois tão complexa e contraditória é a arte de viver!

Entre outras coisas aprendia-se a distinguir, dentro do vasto reino da passarada, como em cartilha venerável, a classe dos comestíveis (que, por vergonha, não digo quais eram nem por quê) da classe dos respeitáveis, quase sempre os mais pequerrichinhos e amigos do camponês, pela bicheza daninha que comiam ou pela companhia que, com a sua cantata, faziam ao lavrador na arada. E nesses não se tocava. Para além destes, havia ainda a casta mais restrita dos intocáveis, a que pertenciam a lavandeira e a andorinha, revestidos de uma aura de sacralidade. A lavandeira, pela companhia que fizera à Sagrada Família na sua fuga para o Egipto, apagando com o abanico da cauda as pegadas do santo burrinho que transportava o Menino fugitivo, para despistar os soldados que o Herodes malvado mandara em sua perseguição. A andorinha, a amorosa andorinha, porque era da família: morava em nossas casas, construindo aqueles formosos caçoilinhos de barro dependurados dos beirais dos nossos telhados. E ainda porque, apesar de envergar um discreto hábito de freira, tinha desempenhos de bailarina clássica, desenhando bailados caprichosos pelos céus da aldeia enquanto caçava os insectos que os primeiros calores primaveris faziam surgir de todo o lado. E aprendíamos ainda a arte de esperar: a longa espera desde o momento em que se descobria o ninho em construção, quando a pássara anda a engordar para pôr, até ao aparecimento dos ovinhos e o seu eclodir em pequenos mostrengos pelados, de órbita inchada e olhos cegos; depois abriam os olhitos e ganhavam o pêlo de burro, a seguir ficavam em canuto, até que adquiriam a plumagem definitiva que lhes permitia ir à vida.

E foi dos ninhos que eu aprendi uma das primeiras e mais sábias lições sobre a vida, a sua beleza e desilusões, ainda antes de entrar para a escola do Sr. Professor Ribom, quando da aldeia grande de Bragança me transplantei para a aldeia pequenina de Rebordainhos. Primeiramente através da dúzia de ninhos de andorinha que povoavam o beiral da casa da avó Adriana, na Portela. A gente quase lhes chegava da janela da sala; bastava esticar o braço e as criaturinhas escancaravam a goela desmedida e cor-de-rosa na expectativa do cibaco. Depois… Bem, depois…

Um dia cheguei a casa e declarei ufano, como quem acaba de descobrir terras do Prestes João: sei um ninho! E sabia, de facto. Foi assim:
Na Fonte da Vila, ali mesmo ao lado da fonte, havia (ainda deve haver) o Lameiro das Almas que o meu pai, com as ânsias dos seus primeiros ensaios de lavrador, trazia à renda. A metade de cima, para onde escorria a água sobeja da dita Fonte da Vila, andava de lameiro; a parte de baixo estava plantada de nabal. Um dia a Amélia da tia Isabel Caldeireira, que então morava connosco, levou-me com ela aos nabos e, ao chegar brindou-me: anda cá, vou-te ensinar um ninho. E foi assim que eu aprendi um ninho: lá estava ele ao toro de um cepo, aconchegado entre dois torrões, o montãozinho de ervas secas e, no centro, uma conchinha lavrada a preceito e acolchoada de penas, com quatro ovinhos brancos. Embasbaquei para o pequeno tesouro que agora era o meu tesouro. E mais, nunca lhe soube o nome!

A partir de então, quase não havia dia em que não me esgueirasse, cauteloso, pela Fonte do Espinheiro, para me furtar ao Prado, onde meu pai tinha o soto, até ao adro; depois, enfiava pela canada que arranca de À-Chave e era um ver-se-te-avias a verificar se o ninho ainda lá estava. E estava. A mãe pássara fugia assustada e eu, de cócoras, não me cansava de admirar a perfeição da conchinha tão redonda, tão macia de penas e os quatro ovinhos aconchegados, miniaturais, aguardando o aparecimento dos pequenos seres que traziam no seu bojo. A medo palpava a quentura dos ovos e a fofura do forro do ninho. E lamentava com os meus botões que a passarinha tivesse sido tão brutinha ao fazer a casa ali, no rés-do-chão, ao toro de um cepo e, ainda por cima, à beira do carreirão que atravessava o lameiro. E eu, mais brutinho ainda que a pobre ave, tocava nos ovos ignorando o risco de a mãe os aborrecer.

Aquilo ainda tinha que dar para o torto!...
E deu. Um dia, depois de uma daquelas zurvadas tão frequentes na primavera, como estiara pela tardinha, ainda deu tempo para ir visitar o meu tesouro secreto. Logo à chegada foi de mau agouro que a pássara não levantasse o costumado voo com o meu estrupido. Espreitei: os ovos estavam frios e o ninho todo encharcado da chuva. Logo vi: ou por causa das minhas mexidelas indevidas, ou por causa do trânsito pelo carreirão, a mãe tinha-os aborrecido. Ainda lá voltei mais tarde, na esperança de que a mãe pássara tivesse revogado a sua decisão de abandono da residência. Mas não: apenas o ninho meio esbarrondado, já com o ar de casa abandonada e as cascas vazias dos ovinhos comidos pelas formigas. Mordi os beiços numa grande vontade de choro, como se a avezita me tivesse atraiçoado sem que ao menos eu tivesse tido ocasião de os ver nascer e acompanhar no seu crescimento: cegos e pelados quando largam a casca, em pêlo de burro a seguir, depois em canuto e, finalmente, emprumados, já prontos para irem à vida.

Em contrapartida, comecei a aprender quão efémeras são as nossas ilusões e como é frágil o sopro da vida que o mais ligeiro percalço pode apagar.

domingo, 13 de março de 2011

Mãe (13/03/2006)

Para Sempre


Por que Deus permite

que as mães vão-se embora?

Mãe não tem limite

é tempo sem hora,

luz que não apaga

quando sopra o vento

e a chuva desaba,

veludo escondido na pele enrugada,

água pura, ar puro,

puro pensamento.


Morrer acontece

com o que é breve e passa

sem deixar vestígio.

Mãe, na sua graça,

é eternidade.

Por que Deus se lembra

- mistério profundo-

de tirá-la um dia?


Fosse eu Rei do Mundo,

baixava uma lei:

Mãe não morre nunca,

mãe ficará sempre

junto de seu filho

e ele, velho embora,

será pequenino

feito grão de milho.


Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 8 de março de 2011

DITOS DO POVO

O cuco ainda não chegou, mas apeteceu-me brincar com as minhas irmãs - parece que se puseram mesmo a jeito!

Convém esclarecer esta ligação que estabelecemos entre o cuco e o casamento.

Diz-nos a mitologia grega (chegada até nós, essencialmente, pela mão dos romanos)que Zeus (Júpiter) se apaixonara por sua irmã Hera (Juno). Conhecedor dos bons sentimentos da deusa, certo dia transformou-se em cuco e, porque dominava os elementos atmosféricos, provocou uma tormenta que o encharcou. Compadecida com o estado lastimável da ave, Hera aconchegou-a no regaço. Imediatamente, Zeus assumiu a sua real forma e revelou as suas verdadeiras intenções. Como Hera exigisse respeito, Zeus aceitou casar-se com ela. Esta história, creio, ajuda-nos a bem compreender a pergunta que as raparigas fazem ao cuco.

Mas o cuco está igualmente relacionado com a vida rural. Para os gregos, o seu aparecimento era o sinal esperado para darem início aos trabalhos nos campos. E se ele não viesse? Talvez dissessem ou acreditassem no mesmo que nós:

quinta-feira, 3 de março de 2011






O blog da ASCRR publicou uma notícia triste.

Despedimo-nos de uma pessoa jovial que nos recebia sempre com o seu sorriso lindo. Foi hoje a sepultar uma das poucas pessoas que ainda me tratava por "menina".