sábado, 31 de julho de 2010

SUGESTÃO

Desembarque do exército português em Arzila (pormenor)

Este artigo não é sobre, nem a propósito de Rebordaínhos. Escrevo-o, apenas, por saber que muitos, no gozo das suas férias, se deslocam a Lisboa onde, como é inevitável no tempo do ócio, há dias que se gastam entre bocejos e a sensação de aborrecimento provocada pela inacção. Proponho, por isso, que se desloquem ao Museu Nacional de Arte Antiga (rua das Janelas Verdes) onde podem ver em exposição as “Tapeçarias de Pastrana”. São quatro panos de armar, de dimensões enormes (cada um com cerca de 10m x 4m), mostrados em condições excepcionais.

Por motivos misteriosos, as tapeçarias de Pastrana encontram-se em Espanha, mas foram encomendadas por D. Afonso V de Portugal a oficinas flamengas. Três delas contam a história da conquista de Arzila (1471), enquanto a quarta mostra a entrada dos portugueses em Tânger, abandonada pelos mouros imediatamente a seguir à tomada de Arzila.

São obras sublimes pela execução e únicas pela temática (e pelas dimensões) já que, através delas, D. Afonso V pretende fixar a imagem que a posteridade deverá fazer de si: a de um rei vencedor empenhado na expansão da fé. Infelizmente, por ter sido ofuscado pela grandeza do filho (D. João II), a posteridade inventou-lhe imagem contrária, a de rei fraco e perdulário.

Rei vencedor, sim, mas também pai dedicado a seu filho, mandando que seja representado a seu lado, legitimando o poder futuro do sucessor e, quiçá, querendo dizer, como Deus no rio Jordão: “Este é o meu filho muito amado, escutai-o”.

Por toda a parte, na área das tapeçarias, estão espalhadas as quinas nacionais e o rodízio, símbolo de D. Afonso V. A escolha do rodízio é um mistério. O cronista Rui de Pina diz-nos, apenas, que o rodizio com gotas de água ao derredor espargidas o tomara El-Rei pela Rainha D. Isabel, sua mulher, sendo acompanhado pelo número VII e pelas palavras ja mais e a letra E. Há uma explicação mirabolante para isto: no entender do grande escritor António Caetano de Sousa (séc. XVIII), tais símbolos, que se encontram num confessionário do convento do Varatojo (mandado construir pelo rei), devem ler-se do seguinte modo: E + rodízio = Erro dizio (diz o erro; confessa-o) e o número VII poderia aludir aos sete pecados capitais. Bendita imaginação!

Cá para mim, que sou mais prosaica, o que D. Afonso V quer dizer com o rodízio é que há-de levar a água ao seu moinho! Pode ter demorado mais de 500 anos, mas estas tapeçarias estão a obrigar-nos a olhar para o Africano com outros olhos!

Cerco de Arzila

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As imagens são scanner do catálogo (que vale bem os 30€ para quem gosta de ter obras de arte em casa), mas as suas grandes dimensões não permitem a reprodução integral (a do cerco é uma montagem rudimentar, mas que me deu uma trabalheira enorme)

sábado, 24 de julho de 2010

O NOSSO DESERTO

É com frequência que recordamos, nesta página, os sacrifícios que os garotos dos Pereiros, Vales, Arufe e Quinta passavam para irem aprender o bê-a-bá à escola da freguesia. Eram tempos em que os direitos das crianças não estavam inscritos na constituição que, do mesmo modo, ignorava os conceitos de igualdade e de liberdade. Mas essa constituição datava de 1933 e inscrevia-se a si e ao regime, até com alguma moderação, no contexto amplo das ditaduras que grassavam pelo Mundo e moldavam a face a Europa nesse tempo. Porque percebeu o papel determinante da escola, o professor Salazar, apesar de reduzir a escolaridade de quatro para três anos, empenhou-se num programa de construção que semearia, por (quase) todos os cantos do País, aqueles edifícios minimalistas nossos conhecidos. Mesmo assim, o analfabetismo grassava e fazia a nossa vergonha nas estatísticas internacionais.

Este ano comemoramos o centenário da implantação da República, regime que arrola o combate ao analfabetismo como um dos seus desígnios mais importantes. Com efeito, apesar do caos político, a Primeira República conseguiu construir, nos dezasseis anos da sua existência, uma média de 69 escolas primárias por ano. Volvido um século, eis que o Estado Português, cujo regime se reclama herdeiro directo da I República, determina que se comemorem com galhardia os 100 anos do seu nascimento, ao mesmo tempo que decreta o encerramento de centenas de escolas. Não sei se é ironia, se é estupidez ou se é pura malquerença ao nosso povo. Não sei! Apenas constato que o nosso distrito é alvo de mais uma violenta bordoada, por ser daqueles em que mais escolas serão esvaziadas. Leio e não quero acreditar. A notícia encheu-me de raiva.

Chegou a altura de voltarmos a falar do suplício que passam as nossas crianças para irem à escola, agora, em nome de uma pretensa igualdade de oportunidades. Da minha parte desejo que os senhores ministros e os senhores deputados que aprovaram a lei fiquem com essa igualdade todinha para si. A bem da Nação!

domingo, 18 de julho de 2010

O que a tecnologia permite!


Não tinha previsto um artigo novo, mas isto é muito engraçado. Quem está on-line comigo (somos quatro, neste momento) já deve ter reparado que adicionei um novo contador de visitas na barra lateral. Clicando sobre ele abre-se um mapa com a localização geográfica dos visitantes e, aumentando o zoom do mapa, ficamos com uma ideia muito próxima da sua origem. Isto é tudo muito interessante, pelo menos para mim!

Bom fim de tarde, para os meus presentes companheiros de Bragança e de França!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

CONTA

VIII: MUNDO DE TOLOS


Era uma vez um homem que andava a correr mundo. Passou ao pé de uma igreja e andavam muitos homens a apanhar punhados de sol para dentro da Igreja. O sacerdote já era velhinho e não via. O homem perguntou-lhes para que era aquilo e prometeu-lhes que metia o sol dentro da Igreja. Subiu ao telhado e tirou umas telhas. Contentes com o resultado, deram-lhe muito dinheiro. Ele trazia um galo e deu-lho, para que anunciasse a madrugada.

Chegou à frente e sentiu gritar:

- “Ou! senhor, Ou! senhor!, que é que come o animal?
-“Come o que come a gente!”
Eles entenderam que comia gente!... Meteram o galo dentro de um palheiro e chiscaram-lhe fogo!

O homem chegou a uma seara onde andavam a ceifar. Punham o centeio em cima de uma pedra e, com outra, cortavam-no. Ele trazia uma seitoura e ofereceu-lha para segarem: - “aqui têm esta bicha fera!” Um cortou logo um dedo e começou a sacudir: - “Hi! Hi! cá me mordeu a bicha fera!” – Atirou com a seitoura e deitaram fogo à seara.

Mais à frente, encontrou muitos homens para derrubarem uma parede, mas era com ovos... Ele deitou-lha abaixo com um ferro.

Ainda mais à frente, chegou a uma casa. O dono queria-lhe dar de comer e foi à adega buscar vinho, mas, assim que chegou à adega, viu lá uma serra dependurada. Matutou que, quando a filha se casasse e tivesse um filho, a serra caía e matava-o! Admirada com a demora, a mulher foi-se a saber do homem e perguntou-lhe o que estava a fazer. Pôs-se também a matutar naquilo que lhe disse... Foi a filha, e, na mesma...