segunda-feira, 22 de junho de 2015

Rostos

Recentemente uma prima minha, neta do Tio Manuel Rodrigo enviou-me esta fotografia, que é um tesouro tendo em conta a quantidade de pessoas que temos nela. A data da foto será referente ao início dos anos 50. Vamos lá aos alvitres?




Lugar: Casa do Povo do Outeiro

Pessoas
1 - Adriana Ana (mãe da tia Angélica)
2 - Isilda? (filha da tia Angélica)
3 - Francisco Martins (do tio Sebastião)
5 - Júlia Rodrigo
 7 - António Rodrigo
10 - Amélia Rodrigo
12 -
15 - (filho da tia Angélica)
16 - Angélica Brás
17- Elisa Brás
18 - Maria da Graça Brás (Costa)
19 - Lurdes Martins (do tio Sebastião)
21 - Margarida Martins (do tio Sebastião)
24 - Sr. D. Maria Teresa
26 - Teresa da Tia Emília do Outeiro
27 - Lúcia Martins?
30 - José Henrique Rodrigo
32 - Ana Costa
34 - Sr. Carlos Sapateiro ?
37 - Sr. Carlos Chiote
39 - Chefe marido da Tia Amélia? 
41 - António Trocho
43 - Angélica Costa (do tio Trocho)
45 - Glória Alves
46 - Emília Rodrigo do Outeiro

(Vou adicionando conforme se identifiquem)

terça-feira, 16 de junho de 2015

DE ANTANHO



Ele há coisas...

Enquanto não tenho tempo para publicar mais um lindíssimo texto que o Orlando me mandou, e aproveitando uma deixa dele, aqui descarrego provas de coisas do arco da velha - o livrete do carro das vacas do meu pai. Sei que era do meu pai e sei que era das vacas, mas... como provar? Já se perceberá pelas imagens abaixo. "Clicando" nelas, pode atestar-se que se trata de livrete de veículo de tracção animal. Porém, que animal? Vacas, certamente. E se fossem mulas?

São retóricas todas as perguntas que façamos sobre a informação dúbia, ou omissa, do documento. É que o livrete, no espaço que devia ter sido preenchido com essas informações, está em branco, nomeadamente, o nome do proprietário! E ameaça-se com a sua apreensão em caso de mudança de propriedade do veículo! E o livrete nem sequer tem número!!! Contudo, o número que lá (não) está deveria coincidir com o da chapa que era obrigatório pregar na traseira do carro e, sublinhe-se, tinha que estar sempre visível! Acreditem, ou não, o meu pai, que nunca tirou carta de condução, teve de pagar uma multa de trânsito porque, certo dia, foi apanhado em flagrante delito, com a dita chapa tapada pela carga de feno, situação semelhante àquela que podem observar na primeira fotografia. Parece que não lhe serviu de emenda porque, como a fotografia prova, foi reincidente. Pagaria a dobrar se fosse apanhado?




 Uma boa semana para todos.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

"SE DE TI ME NÃO LEMBRAR, JERUSALÉM..."

Por voltas que dêem e epítetos que lhe acrescentem, este é o dia dele - de CAMÕES. E ele bem merece ter dia próprio. O que não sei é se nós o merecemos a ele.


Sôbolos rios que vão
Por Babylonia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião,
E quanto nella passei.
Alli o rio corrente
De meus olhos foi manado;
E tudo bem comparado,
Babylonia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.

Alli lembranças contentes
N'alma se representárão;
E minhas cousas ausentes
Se fizerão tão presentes,
Como se nunca passárão.
Alli, despois d'acordado,
Co'o rosto banhado em ágoa,
Deste sonho imaginado,
Vi que todo o bem passado
Não he gôsto, mas he mágoa. 
(...)
Canta o caminhante ledo
No caminho trabalhoso
Por entre o espêsso arvoredo;
E de noite o temeroso
Cantando refreia o medo.
Canta o preso docemente,
Os duros grilhões tocando;
Canta o segador contente;
E o trabalhador, cantando,
O trabalho menos sente.

Eu qu'estas cousas senti
N'alma de mágoas tão cheia,
Como dirá, respondi,
Quem alheio está de si
Doce canto em terra alheia?
Como poderá cantar
Quem em chôro banha o peito?
Porque, se quem trabalhar
Canta por menos cansar,
Eu só descansos engeito.
(...)
Terra bem-aventurada,
Se por algum movimento
D'alma me fores tirada,
Minha penna seja dada
A perpétuo esquecimento.
A pena deste destêrro,
Qu'eu mais desejo esculpida
Em pedra, ou em duro ferro,
Essa nunca seja ouvida,
Em castigo de meu êrro.
(...)
Ditoso quem se partir 
Para ti, terra excellente,
Tão justo e tão penitente,
Que despois de a ti subir,
Lá descanse eternamente!

segunda-feira, 8 de junho de 2015

CORPO DE DEUS

Rebordainhos ficou, mais uma vez, lindíssima. As imagens estão publicadas bo blog da ASCRR. Entre lá.

terça-feira, 2 de junho de 2015

SEGADORES

por: orlando santos martins
parte iii

Ao longe vislumbrava-se o cotovelo de um caminho cinza-alaranjado com dois trilhos paralelos bem vincados, sulcados pelos carros de bois que por ali passavam e ladeados nas bermas por urzes, giestas, carquejas e pequenas ervas rasteiras, vindo da Fonte do Sapo e que, àquela hora, alimentava a ânsia e a curiosidade do Dércio, de alcunha o “raposas”.
Ó Dércio, deixa lá o caminho e toca a trabalhar. – Repreendeu o Sérgio Malhadinhas. – O jantar está quase a chegar!
Já não é sem tempo, sabes que a comida está para este corpito como a igreja está para a alma. – Respondeu o Dércio, esboçando um risinho.
Já que calha a talho de fouce, diz aí ao Anacleto para trazer o pipo do vinho antes que fique em gelo, que uma rodada vai de certeza, e o capataz Humberto também já está com sede. – Acrescentou o Jorge no mesmo ar brincalhão.
Os intensos e abrasadores raios de sol dardejavam agora a pique sobre a seara, tornando-a mais áspera e libertando um fino pó que se entranhava nos poros da pele curtida e secava a garganta dos segadores. As costas vergadas ensopavam-se de suor, as camisas ao longo da coluna pareciam de uma cor mais escura e nas axilas formavam dois lagos que as gotas caídas da testa e do pescoço alimentavam como se de uma fonte se tratasse.
O passar do pipo, além de proporcionar uma breve pausa, endireitava as costas vergadas dando-lhes um retorno à sua posição inicial e aliviando por breves momentos a intensa dor dos quadris.
Já lá vem… Já lá vem…. - Gritou o Dércio.
No cotovelo do caminho, que o Dércio não esquecia nem largava há já algum tempo, viam-se agora três vultos indefinidos que mais se assemelhavam a pequenas figuras da ilha de Páscoa.
À medida que os vultos se aproximavam, tornavam-se mais definidos e iam ganhando os contornos de três mulheres com cestos de verga à cabeça cobertos com toalhas e à cintura, com o braço metido na asa, equilibravam pequenas cestas de vime onde transportavam as louças e a comida para a merenda que, dada a distância a que ficava a casa, era já levada para o campo, ficando à guarda dos segadores para mais tarde.
Distinguia-se ainda, pendurado num braço das figuras caminhantes e assente no quadril, um cântaro que, pelo aspecto e pela tampa de cortiça que lhe tapava o bocal, devia trazer a sopa.
Eram a Maria, a Ana e a Lúcia que carregavam o jantar e, nessa altura, quase todos os segadores suspiraram e lançaram um breve olhar de contentamento para as mulheres e os cestos que transportavam imaginando com água na boca, mas ainda sem cheiro, o conteúdo dos mesmos.
Arrastavam-se vagarosamente pelo caminho até desaparecerem na curva do “Pórto” que contornava o lameiro do tio Zé Çuca, onde era frequente ver o seu filho Fernando a guardar as vacas enquanto pastavam, atravessado pelo meio por um ribeiro permanente, mas com pouco caudal no verão, que corria até à pequena povoação dos Vales.
Após alguns minutos, viam-se os cocurutos das toalhas, com padrões coloridos que tapavam os cestos que iam à cabeça das mulheres, surgirem lentos e com a cadência de passos lentos por cima das silvas que cobriam a parede Este que servia de socalco à cova de Vila Seco.
Também elas já tinham avistado os segadores e a Maria desabafou, escondendo o cansaço:
Porra, … até que enfim. Já chegámos. Vós não sabeis o que é que estes “carvalhos” esta palavra era suavizada pela presença de gente de fora – me fizeram a ano passado.
Então o que foi? – Perguntou a Lúcia.
Olha, vê lá tu que um dia fui levar o jantar pensando que estavam no “Pórto”, chamei, chamei e nada!
Carvalho nisto, onde terão ido? – Pensei. – Vou-me até à “Renda” que devem estar lá. Um” caralicho”! Nem vê-los. Mas que raio, onde se terão metido? Já toda arreliada, fui à “Penatoura”… também nada! Ó meu Deus! E agora que faço? Raios partam a minha vida. Desabafei estas e outras que me vieram à cabeça, e que Deus me perdoe.
E então? – Quis saber a Lúcia.
Olha, fui dar com eles todos esparramados na touça, à sombra, a afiarem as fouces.
Coitada! – Disseram em uníssono a Lúcia e a Ana.
Ó António. Cá estamos. – Gritou a Maria. – Onde queres que pousemos os cestos para jantar?
Eia, mulheres, estais todas suadas, Reparou. – Olha, ponde os cestos debaixo daqueles carvalhos, que sempre jantamos à sombra. – Disse, apontando para a pequena touça sobranceira à terra.
Esta já está. – Suspirou a Lúcia tirando um lenço do bolso da frente do avental e enxugando com ele a testa.
Deitaram mãos aos cestos que traziam à cabeça para os descerem. – Ajuda aqui, António. Pediu a Maria enquanto pousava devagar toda a carga, como se de porcelana se tratasse, enquanto ia libertando algumas interjeições de alívio. Retiraram da cabeça as pequenas rodelas feitas de toalhas pequenas que se pareciam com regueifas amassadas e lhes permitiam o equilíbrio dos pesos que levavam e evitava alguma dor e esfoladelas provocados pelos fundos dos cestos de verga.
As toalhas foram estendidas numa zona mais chã da touça, onde algumas folhas amareladas e avermelhadas caídas foram varridas pelos pés da Maria, e nas bordas foram colocadas pequenas pedras para evitar que a mais pequena brisa pudesse enrolar as toalhas estendidas para o jantar.
Nelas eram colocados os pratos, os talheres e os copos, formando um posto de degustação que era religiosamente ocupado pela hierarquia do grupo que se tinha composto.
A canhona refogada, as batatas cozidas, o pão, a sopa, o vinho e a água e outros condutos já se encontravam estrategicamente colocados, convidando o pessoal ao respectivo repasto que antecederia uma pequena sesta.
O António fez sinal ao capataz e o Humberto chamou o seu pessoal para o jantar.

Então rapazes, não estavam à espera disto?... Pois então vamos lá.
Após o fundo dos tachos ter sido posto a descoberto pelos esfomeados segadores e os pipos de vinho se encontrarem mais leves que uma pena de rola caída por perto, viam-se, lentamente e numa cadência dormente, os segadores levantarem-se para desentorpecer as pernas e procurarem um pequeno leito para descanso por entre a folhagem que tinha caído e as sombras mais acolhedoras.
A Maria, a Lúcia e a Ana, depois de arrumarem toda a louça, dispuseram-se a separar um cesto com pão, carne de porco, bacalhau desfiado, algumas azeitonas azedas como fel e dois ou três queijos de cabra secos que daria para a merenda do rancho de segadores, uma vez que, dada a distância, não voltariam a trazer mais mantimentos, como era costume, regressando a casa para a preparação da ceia.
Aproveitando a pequena sesta, aproximadamente uma hora, alguns segadores aproveitavam para encontrar, nas giestas mais acima, um lugar discreto e seguro para satisfazerem as suas necessidades físicas, iam a campo, como era costume dizer.
****
De regresso à seara lá vinham eles, uns mais ensonados, outros com ar de resignação, para continuarem a sua luta até o sol desaparecer mesmo por detrás do pico da fraga da Anta.
A tarde decorreu calma, com o sol cada vez mais abrasador e cada seitourada tornava-se mais penosa à medida que iam avançando cova acima.
Timidamente, antes da merenda, ainda tentaram uma moda da tarde, mas as vozes em surdina, como que arrastadas pelas gotas do suor, foram esmorecendo à medida que o cansaço ia tomando conta destes heróis de outrora.
Com o sol prestes a deitar-se, arrumaram todos os apetrechos e o cesto vazio da merenda e rumaram caminho fora em direcção à povoação.
Já dentro de portas, alguns aproveitaram para se reabastecer de tabaco e talvez o reforço de um copito na taberna onde o Sr. Álvaro, na de baixo, e o Sr. António “Trocho” na de cima, aguardavam ansiosamente por estes finais de tarde com clientela fora do habitual.
Em casa da Maria, ultimava-se a ceia e preparava-se o dia seguinte.